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A Característica Evangélico-cristã do Espiritismo

A Característica Evangélico-cristã do Espiritismo


Por Rogério Coelho

O Evangelho é diretriz e medicamento para as angústias do coração
"Nunca, quanto ocorrem nestes dias, a vivência da mensagem evangélica se faz tão necessária.” - Joanna de Ângelis

Segundo o nobre mentor Vianna de Carvalho[1], ainda reponta, hoje, nos arraiais dos honestos investigadores da sobrevivência do Espírito, certa ojeriza pelo ensino evangélico, asseverando - indóceis e invigilantes - que é desnecessária a vivência do Evangelho para a felicidade do homem. Porque os seus conceitos remanesçam fixados às informações religiosas ortodoxas, não se tendo permitido maior estudo e reflexão nos ensinos morais profundos da Boa-Nova, sob a angulação luminescente do Espiritismo, afirmam que o comportamento evangélico é pieguista, dando origem a personalidades fracas, dúbias...

Muito fácil, no entanto, a posição agressiva, reacionária, acrimoniosa. A resistência pacífica e branda à perseverança nos ideais superiores sem alarde nem explosões de estoicismo exterior é muito exigente, impondo maior dose de coragem e de abnegação moral do que pode parecer. A Doutrina Espírita - por isso mesmo - pode ser considerada como a Renascença do Cristianismo Primitivo, trazendo de volta a emulação corajosa dos "discípulos", a estesia sacrificial que caracterizou os lídimos servidores das horas primeiras, produzindo-lhes nas almas uma imediata transformação para melhor.

O Espiritismo reacende nas almas a empatia da fé, fortalecendo - realmente - o homem para enfrentar as vicissitudes, em decorrência do seu ensino vivo da Imortalidade, resultando o comportamento moral e a experiência filosófica da criatura então, interiormente, iluminada.

A dor, que sobrenada nas caudais da miséria como nas expressões da abundância econômica, tem sido um desafio ainda não enfrentado, para o vigoroso combate ao comando do amor, da fé e da razão. Ao Espiritismo está reservado esse cometimento que já se inicia...

Não obstante transcorridos quase vinte séculos, as lições incomparáveis do Cristo prosseguem com atualidade comovedora. A história do pensamento experimentou várias tentativas nos diversos campos do conhecimento, ora adicionando ou não experiências, à medida que desprezava conceitos que se esvaziavam de conteúdo, superava escolas de realizações sem estrutura legítima, caldeando informações e elaborando princípios válidos por uns tempos, noutros desconsiderados, enquanto a palavra-roteiro do Messias Divino continua hoje imperiosa e oportuna quanto o fora no momento em que enunciada.

Esse valioso conteúdo permanece inalterado, diretriz e medicamento para as angústias do coração e as incertezas, intranquilidade da mente...

Os pesquisadores da ciência e os filósofos negadores, embora tentando substitutivos para o Espiritualismo, alegando a imperiosa urgência em destruir a esperança na Imortalidade da alma, esbarram, por mais cépticos, nas claridades meridianas e consoladoras do Além-Túmulo, bem como da sempre nova mensagem cristã, insuperável, oportuna.

Continua o nobre Mentor[2]: "todas as religiões estabeleceram os seus postulados em dogmas de fé inamovíveis. Allan Kardec, porém, traduzindo o pensamento do Cristo, fundamentou a Religião Espírita nos códigos da razão insculpidos na consciência individual do homem; todos os pensadores se preocuparam em solucionar a problemática do homem, criando escolas de conhecimento e engendrando sistemas que objetivam combater-se uns aos outros. Allan Kardec, todavia, refundiu os conceitos idealistas de Sócrates e Platão, erguendo um monumento granítico em linhas morais, apoiado nos alicerces dos fatos; todos os pesquisadores da Ciência partiram da premissa na busca infatigável da demonstração. Allan Kardec, sem embargo, mergulhou no oceano infinito dos fatos, deles extraindo a grandiosa constelação de luzes e experimentações que constitui a Ciência Espírita; todos os religiosos sempre afirmaram a Imortalidade da alma, sem terem como prová-la. Allan Kardec, entretanto, partindo da observação, comprovou a imortalidade pelos métodos vigentes de demonstração, elucidando as leis que regem o intercâmbio entre o mundo físico e o mundo espiritual.

A reencarnação sempre esteve presente nas experiências e informações extrafísicas dos séculos como chave da incógnita dos sofrimentos humanos. Allan Kardec, contudo, conseguiu, às expensas do Mundo Espiritual que o assistia, extrair os fundamentos éticos relevantes para a felicidade do homem, nos conceitos reencarnacionistas, estribando, no Evangelho, a rota de segurança, única, aliás, propiciatória para colimar-se as metas evolutivas.

Todos os tratados de Filosofia têm sido apresentados em linguagem complexa, somente compreensível pelos especialistas e estudiosos... Allan Kardec, porém, conseguiu debater e estudar os pontos capitais do pensamento universal em linguagem simples, compatível com a mente do povo, sem esquecer as inteligências brilhantes, a todos franqueando devassar os umbrais da Imortalidade à luz da Codificação.

Todos os militantes das religiões e das filosofias procuraram definir Deus ou negá-lO. Allan Kardec, a exemplo de Jesus, apresentou o Criador, na Criação, e a Divindade manifesta nos Seus atributos de grandeza e magnitude, sem insistir em definir o Indefinível".

O Espiritismo materializou na Terra a promessa de Jesus sobre "O Consolador" que viria mais tarde, a Seu pedido, ensinar-nos “todas as coisas, lembrar as que Ele ensinara e ficar conosco para sempre".

Afirma o ínclito Mestre Lionês[3]: "o Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo. Ele no-lo mostra, não mais como coisa sobrenatural, porém, ao contrário, como uma das forças vivas e sem cessar atuantes da Natureza, como a fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos e, por isso, relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso. É a essas relações que o Cristo alude em muitas circunstâncias e daí vem que muito do que Ele disse permaneceu ininteligível ou falsamente interpretado. O Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se explica de modo fácil.

A lei do Antigo Testamento teve em Moisés a sua personificação; a do Novo Testamento tem-na no Cristo. O Espiritismo é a terceira revelação da Lei de Deus, mas não tem a personificá-la nenhuma individualidade, porque é fruto do ensino dado, não por um homem, sim pelos Espíritos, que são as vozes do Céu, em todos os pontos da Terra, com o concurso de uma multidão inumerável de intermediários. É, de certa maneira, um ser coletivo, formado pelo conjunto dos seres do mundo espiritual, cada um dos quais traz o tributo de suas luzes aos homens, para lhes tornar conhecido esse mundo e a sorte que os espera.

Assim como o Cristo disse: ‘não vim destruir a lei, porém cumpri-la’, também o Espiritismo diz: ‘Não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução’. Nada ensina em contrário ao que ensinou o Cristo, mas desenvolve, completa e explica, em termos claros e para toda gente, o que foi dito apenas em termos alegóricos".

Como podemos pensar em separar o Espiritismo do Evangelho de Jesus?! Seria incoerência... As palavras de Jesus não passarão e o Espiritismo, limpando-as das cinzas dos dogmas ancilosados, emancipando-as dos prejuízos acrescentados pelos interesses subalternos dos homens dá a sua mensagem de Luz e Vida, religando o homem ao Criador, fazendo-o identificar-se com a sua natureza cósmica, eterna...

Por tudo isso, estamos com Hermínio C. Miranda quando afirma parafraseando o Apóstolo dos Gentios[4]: “(...) dos três aspectos do Espiritismo: Ciência, Filosofia e Religião, o mais excelente de todos é o aspecto religioso”.

A Ciência e a Filosofia Espíritas nos conduzem com segurança pelos meandros dos conhecimentos científicos terrestres, a Religião Espírita permite-nos alçar voos transcendentais rumo aos cimos gloriosos da Espiritualidade, manancial inesgotável e imarcescível da Luz Divina.


[1] - FRANCO, Divaldo. Sementes de Vida Eterna. 2. ed. Salvador: LEAL, 1989, pp. 9-15.
[2] - Idem, ibidem, cap. I.
[3] - KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 125. ed. Rio: FEB, 2006, cap. I, itens 5 a 7.
[4] MIRANDA, Hermínio C. O Apóstolo dos Gentios. Volume I – prefácio.

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