Os céticos, em geral, são como Tomé: haverão de continuar sempre na exigência de mais comprovações’
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O médium espírita Francisco Cândido Xavier, falecido em 2002, dizia: “O telefone só toca de lá para cá”. Essa era a maneira simples de o mineiro explicar a todos que era apenas um servidor de Deus, com a missão de ser um emissor das mensagens supostamente oriundas do mundo espiritual, transcritas por meio da psicografia.
As autorias de muitas cartas psicografadas por Chico são atribuídas a espíritos de pessoas falecidas cujas mensagens seriam destinadas às suas famílias. As correspondências mediúnicas são um conforto para quem está em luto e foi buscar alento no Espiritismo, uma esperança de que aquela pessoa que morreu “vive”, ainda que seja no plano espiritual.
Crer na psicografia é uma questão de fé para muitos, mas essas possíveis correspondências do além-túmulo despertaram o interesse científico.
Pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) analisaram um lote de cartas psicografadas pelo médium Chico Xavier com o objetivo de atestar se as mensagens são verídicas. Ao todo, 13 cartas atribuídas a Jair Presente, foram analisadas a partir de 2011. Ele morreu afogado em 1974, na cidade de Americana, no interior paulista.
Segundo o diretor do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (NUPESUFJF), psiquiatra Alexander Moreira-Almeida, em entrevista ao portal Uol, o estudo foi feito em parceria com o Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), a partir do pósdoutorado dos pesquisadores Denise Paraná e Alexandre Rocha.
Conforme Moreira-Almeida, o estudo foi feito por meio de análise das cartas originais de Jair Presente, entrevistas com familiares dele e documentos do mesmo.
“A probabilidade de Chico Xavier ter tido acesso a grande parte destas informações por vias convencionais era extremamente remota. Em vários casos, eram informações muito privativas da família e, em algumas delas, até desconhecidas dos familiares que visitaram Chico Xavier para obter as cartas psicografadas”, afirmou o pesquisador ao portal de notícias, em dezembro.
O resultado de outro lote de cartas será publicado em breve. Além disso, o pesquisador disse que outra pesquisa será focada nos médiuns em atividade.
Para comentar sobre a pesquisa da UFJF, o Diário do Litoral contatou o cirurgiãodentista e médium espírita Carlos Antônio Baccelli.
Nascido e educado em uma família católica, Baccelli se interessou pela Doutrina Espírita aos 17 anos de idade. Nessa época, quando questionava as razões de sua própria existência e os mistérios do Universo, Baccelli foi a uma casa espírita a convite de um amigo, onde despertou para o espiritismo e se tornou um estudioso da doutrina — codificada por Allan Kardec —, que viria a traçar, em definitivo, os planos de sua vida.
Baccelli, então, começou a frequentar a mocidade da Casa Espírita Bittencourt Sampaio, em Uberaba, Minas Gerais.
Desde a década de 1980 até os dias de hoje, Baccelli já publicou mais de 100 livros mediúnicos, sendo 15 biografias de Chico Xavier, com quem conviveu durante 25 anos. Ao longo desse período, Baccelli também tem realizado palestras pelo Brasil.
Diário do Litoral - Para o senhor, é necessário comprovar, de forma acadêmica, a veracidade de cartas psicografadas por Chico Xavier?
Carlos Baccelli - Para mim, particularmente, não, porque, em verdade, tive, durante quase 30 anos, oportunidade de verificar in loco tal comprovação pelos próprios familiares destinatários das referidas cartas psicografadas. O maior atestado de sua autenticidade era fornecido pela reação positiva dos familiares aos quais as mensagens psicografadas por Chico Xavier eram dirigidas, nas sessões públicas de psicografia que ele realizava. Os depoimentos que, muitas vezes, eram dados, espontaneamente, pelos familiares dos espíritos que se comunicavam excedem qualquer forma de comprovação acadêmica, que, a meu ver, está chegando tardiamente, porque, quando Chico estava encarnado, poucos foram aqueles que tomaram a iniciativa de estudar o fenômeno que ele era.
DL - À luz do Espiritismo, para o senhor, quais indícios ou informações contidas nessas mensagens já são por si só provas da autoria de pessoas falecidas que se comunicaram com os seus entes através de Chico Xavier?
Baccelli – Simples. Chico, por exemplo, psicografava, em média, de 7 a 10 cartas por reunião — quando dispunha de mais saúde, as reuniões eram realizadas três vezes durante a semana — às segundas, às sextas-feiras e aos sábados. Teríamos, então, calculando por baixo, cerca de 20 e poucas mensagens por semana! O que nos dá um total de quase 100 cartas por mês, contendo, cada uma delas, um mundo de informações — nomes, apelidos, datas, citações, enfim, as mais variadas... Ora, numa época em que, praticamente, não existia internet, e que Chico Xavier pouco saía de sua casa, aonde será que ele iria buscar tantas e tantas informações, inclusive, com muitas cartas sendo assinadas pelos seus destinatários com a sua própria caligrafia?
DL - Esse estudo da UFJF traz algum benefício à memória de Chico Xavier, quanto à autenticidade dessas cartas?
Baccelli – A memória de Chico Xavier, vocês nos perdoem, não carece de comprovações de sua mediunidade para ser preservada e reverenciada, porque o homem Chico Xavier era muito maior que o médium Chico Xavier — possuindo, no mínimo, o mesmo tamanho! Chico, como pessoa humana, e servo fiel de Jesus Cristo, não carece de tais benefícios à sua memória! Agora, sem dúvida, para os mais céticos, o estudo é sempre válido.
DL - Esse estudo da UFJF é positivo para a psicografia em geral?
Baccelli – Creio que sim, não obstante, a UFJF deve estar preparada para não sair por aí à procura de outro Chico Xavier, porque, positivamente, ela não irá encontrar. Chico foi e, durante muito tempo, continuará sendo um fenômeno único. No mundo inteiro, não há sensitivo que se compare a Chico Xavier!
DL - Uma pesquisa acadêmica será suficiente para provar aos céticos a autenticidade de cartas psicografadas?
Baccelli – Os céticos, em geral, são como Tomé: haverão de continuar sempre na exigência de mais comprovações. Agora, que uma coisa fique bem clara: o Espiritismo, como Doutrina, não está preocupado com isto. A fé é conquista individual! Para satisfazer aos incrédulos, o Céu não promoverá manifestações retumbantes, inclinando- se aos caprichos pessoais desse ou daquele, como se acreditar em Deus fosse um favor que fizéssemos a Ele!
DL - Para o senhor, o que realmente importa quando entrega uma carta psicografada a uma família que crê e busca consolo na existência da vida após a morte?
Baccelli – A sensação de meu dever mediúnico cumprido! Crer, ou não crer, na carta psicografada, não é comigo. Se eu não tivesse a mínima confiança pessoal na autenticidade de uma mensagem psicografada por meu intermédio, eu não conseguiria escrever uma linha sequer. Cumpro com o meu papel, e fico feliz quando alguém se conforta com uma página de além-túmulo que os espíritos tenham tido oportunidade de psicografar por minha mão. Não obstante, percebo que, caso eu não fosse um instrumento tão imperfeito, os espíritos teriam logrado muito mais — e esta constatação me deixa um tanto quanto frustrado.
DL - Qual a sua mensagem sobre as cartas psicografadas e seu real significado na Doutrina Espírita?
Baccelli –As cartas familiares psicografadas não passam de um simples tijolo no edifício doutrinário do Espiritismo. O que, em geral, as cartas pretendem, é fomentar a crença na imortalidade, combatendo o materialismo que grassa em nossos dias, do ponto de vista moral, con- Chico, como pessoa humana, e servo fiel de Jesus Cristo, não carece de tais benefícios à sua memória! Agora, sem dúvida, para os mais céticos, o estudo é sempre válido A UFJF deve estar preparada para não sair por aí à procura de outro Chico Xavier, porque, positivamente, ela não irá encontrar duzindo o mundo para um suicídio coletivo. Cada carta, pois, encerra uma Mensagem muito maior do que as suas laudas possam conter.
DL – Como o senhor define Chico Xavier?
Baccelli – Um dos maiores fenômenos humanos da história da Humanidade, e, sem dúvida, o maior fenômeno mediúnico de todos os tempos, dentro e fora da Doutrina Espírita.
DL - Aos 17 anos, o senhor se interessou pela Doutrina Espírita buscando respostas ao seu dom. Desde então, dedica-se à religião e à caridade. Em 2007, quando o entrevistei, o senhor já havia publicado 105 livros, sendo 15 biografias de Chico Xavier. O senhor publicou mais livros de lá para cá? Quais são?
Baccelli – Sim, publicamos. No entanto, o que importa não é a quantidade, mas a qualidade. Felizmente, os livros de nossa lavra mediúnica têm sido muito úteis a nós mesmos, nas reflexões que efetuamos a respeito da Vida além da morte do corpo carnal. Se eles estão sendo úteis a outros, sinceramente não sei.
DL - Qual a sua mensagem religiosa para os que creem no Espiritismo e também aos que não creem?
Baccelli – Creio que outra mensagem maior não existiria do que àquela de Jesus Cristo, que, aliás, Chico Xavier sempre fazia questão de repetir: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei!”. Fora do amor de Jesus, o mundo não tem saída — ele caminhará, a passos largos, para a bancarrota espiritual.
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