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Pomada do Vovô Pedro

Analisando a Pomada do Vovô Pedro

A pomada do Vovô Pedro é um produto (unguento) distribuído em muitos centros espíritas ao redor do Brasil, como um bálsamo para diversos tipos de enfermidades e moléstias. Inicialmente era distribuída por entidades espíritas do estado de Minas Gerais, com caráter caritativo, ou seja, sem cobrar-se por ela.
Supostamente teria sido canalizada por meio da psicografia do médium João Nunes Maia em 1972, sendo que seu autor espiritual é ninguém menos do que Franz Anton Mesmer, criador do Mesmerismo, ou de como é conhecido mais popularmente, passe magnético. O espírito do médico alemão Franz Mesmer, tomou um pseudônimo de Vovô Pedro para passar a fórmula da pomada nos centros espíritas.
O unguento não ficou restrito só ao estado de Minas Gerais, se alastrando por diversas outras regiões do Brasil. Em algumas casas espíritas até pediam doação de tubos de filmes fotográficos, para armazenar a pomada. Consta que a fórmula original é registrada e tem responsabilidade farmacêutica, em nome de Maria de Fátima R. Léo; CRF: MG 5807.
Existem diversas curiosidade que cercam essa manifestação e essa pomada, uma delas da própria manifestação de Vovô Pedro (Mesmer), que foi questionado de sua identificação. Com tranquilidade o espírito responde:
“É preferível que as coisas simples tenham nomes simples. Uma observação, porém; o preço deste medicamento deverá ser um e apenas um ‘Deus lhe pague'”. 
No começo da manifestação não se fazia ideia de que Vovô Pedro era na verdade uma manifestação oculta de Franz Anton Mesmer. O médium João Nunes Maia, em uma visita à Biblioteca Pública de São Paulo, estava examinando uma enciclopédia, quando reparou em uma gravura com o rosto do espírito que se comunicava com ele, ou seja, do próprio médico Mesmer.
A pomada é um unguento tópico feito de diversos extratos de ervas medicinais, conhecidos de nossa farmacopéia e muito estudados, sendo eles:
  • Erva-de-bicho (Polygonum punctatum);
  • Ipê-Roxo (Tecoma araliacea);
  • Calêndula (Calendula officinalis);
  • Tuia (Thuya occidentalis);
  • Extrato de Própolis;
  • Tintura de Condurango (Gonolobus condurango);
  • Além de usar como veículos a vaselina e a lanolina.
A lanolina é uma gordura extraída da lã da ovelha, usada como veículo ou excipiente em diversos cremes, shampoos, pomadas e outros. A vaselina, por sua vez é um produto extraído do petróleo. Quase podemos afirmar que é uma fórmula fitoterápica.
Analisando individualmente cada componente, podemos encontrar que:

Erva-de-Bicho (Polygonum punctatum)

Essa planta medicinal tem diversas espécies similares, e segundo algumas fontes, possuí propriedades medicinais adstringentes, anti-séptica, cicatrizante, diurética, hipotensora e anti-reumática. Contudo, dentro do Formulário de Fitoterapia da Farmacopéia Brasileira (Anvisa), só consideram que essa planta tem propriedades anti-hemorroidal. Segundo Alves et al, (2001)
“Polygonum punctatum (Polygonaceae) is an herb known in some regions of Brazil as “erva-de-bicho” and is used to treat intestinal disorders. The dichloromethane extract of the aerial parts of this plant showed strong activity in a bioautographic assay with the fungus Cladosporium sphaerospermum. The bioassay-guided chemical fractionation of this extract afforded the sesquiterpene dialdehyde polygodial as the active constituent. The presence of this compound with antibiotic, anti-inflammatory and anti-hyperalgesic properties in “erva-de-bicho” may account for the effects attributed by folk medicine to this plant species.”
Em uma tradução livre, essa erva por meio do extrato de diclorometano de suas partes aéreas tem forte atividade em um ensaio com o fungo Cladosporium sphaerospermum. O fracionamento desse extrato proporcionou a presença de um sesquiterpeno conhecido como dialdeído, como um componente ativo. Esse composto possui propriedades antibióticas, anti-inflamatórias e anti-hierpalgésicas. Esse seria o PAN (Princípio Ativo Natural) que responsável pelos efeitos atribuídos a esse medicamento popular.
Alves TMA, Ribeiro FL, Kloos H, Zani CL. Polygodial, the Fungitoxic Component from the Brazilian Medicinal Plant Polygonum punctatum. Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 2001; 96:831-833.

Ipê-Roxo (Tecoma araliacea)

O Ipê-Roxo não consta do Formulário de Fitoterapia da Farmacopéia Brasileira, porém é uma erva popularmente utilizada na prática medicinal, porém faz parte das ervas relacionadas no RENISUS ( Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS). Presente em diversas “farmacopéias populares” principalmente as das tribos sul-americanas em especial as andinas, desde épocas remotas. Seu nome tem origem tupi e significa “árvore cascuda”.
Quando se extraí sua casca, emagando-a e depois cozinhando-a, extraí-se um óleo com propriedades cicatrizantes. Presente em diversos preparados populares no brasil, inclusive por meio de infusos de suas folhas, do do decocto de sua casca e também de preparados para garrafadas, com supostas propriedades antigripais, atuando também contra a bronquite, sinusite, impetigo, úlceras sifilíticas e blenorrágicas, cervicite e cervico-vaginite. Ainda atribuem propriedades anti-anêmica, diurética, calmante analgésica, tendo relatos de tratamentos de tumores, como positivos.
Destes porém podemos afirmar apenas as suas propriedades antioxidantes, antibióticas, bactericidas, antivirual, antifúngica e cicatrizante.

Calêndula (Calendula officinalis)

A calêndula é muito conhecida no meio umbandista e também dentre os fitoterápicos mais utilizados no mercado de medicamentos naturais industrializados. Existem diversas pomadas e cremes para bebês, com extrato de calêndula que promovem cicatrização e impedem assaduras nos bebês. Presente no Formulário Fitoterápico da Farmacopéia Brasileira, possui as propriedades antiinflamatória e cicatrizante.

Tuia (Thuya occidentalis)

Dentro das propriedades farmacológicas da Tuia, podemos destacas as glicoproteínas e polissacarídeos, que são dados como agentes antivirais e imunoestimulantes. Dentro de seus princípios ativos, encontramos o α-pineno, borneol, fenchona, flavonóides (glicosídeos de kenferol e quercetol), óleo essencial composto de 60% de tuyona e também taninos. São atribuídas as propriedades adstringente, anti-helmítica, anti-hemorroidal, antirreumática, antiasmática, antiverrugas, emenagoga e expectorante. Sendo que sua principal função é o tratamento de infeções virais e bacterianas.

Própolis

Própolis é uma cera resinosa retirada das colmeias de abelha que tem grande destaque por suas múltiplas funções e propriedades. Relatadas abaixo:
  • Antimicrobiana ( Ghisalberti, Bee World, 60, 59-84, 1979 / Park et. al., Current Microbiology, 36, 24-28, 1998;)
  • Antifúngica ( Millet – Clerc et. al., Plant. Med. Phytother, 21, 3-7, 1987; / Kujumgiev et. al., 64 (2), 235-240, 1999; / Silici et al J. Pharmacol. Sci. 99, 39, 2005;)
  • Antivirótica (Esanu et. al., Virologie, 32, 213-215, 1981;)
  • Antiprotozoário (Scheller et. al. Arzneim – Forsch. Drug., 30, 1847-1848, 1980; / Towers et. al. Rev. Cuban Cienc. Vet., 15-19, 1990;)
  • Bactericida e bacteriostática (Focht et. al. – Arzneimitteln Forschung 43-II (8) 921-923, 1993;)
  • Anestésica (Ghisalberti, 1979 / Paintz and Metzner, 1979;)
  • Antiinflamatória (Olinescu, Stud. Cercet. Biochim., 34, 19-25, 1991;)
  • Antioxidante ( Yanishlieva & Marinova, Kharanitelnopr. Nauka, 2, 45-50, 1986;)
  • Cicatrizante e regeneração de tecidos (Stojko et. al., Arzneim – Forsch. Drug Rês., 28, 35-37, 1978;)
  • Anti-sépticas e hipotensivas (Ghisalbert, Bee World, 60, 59-84, 1979;)
  • Tratamento de gengivites (Magro Filho et. al., 32, 4-6, 1990;)
  • Atividade hepatoprotetora e agente anti-úlceras (Kabanov et. al., Sov. Med., 6, 92-96, 1989;)
  • Estimuladora do sistema imunológico (Manolova, et al, 1987; Moriyasu, et al, 1993; Harish, et al, 1997;)
  • Ação inibidora na multiplicação de células tumorais (Matsuno et. al. 1992; / Kimoto et. al. 1995;)

Tintura de Condurango (Gonolobus condurango)

Apesar de alguns estudos apontarem para uma característica citotóxica do extrato de Condurango, associando-o a um potencial agente contra células tumorais, a sua aparição na fórmula da pomada, parece-em se dar mais pela sua qualidade de tônico e por estimular uma maior vascularização – circulação – na área aplicada, facilitando assim a absorção dos outros compostos da fórmula da pomada do Vovô Pedro, por meio da pele.
Podemos perceber que há uma investigação por trás dos componentes da pomada do Vovô Pedro e um panorama bem fitoterápico, que acaba sendo exatamente o objetivo da pomada. Curiosamente, um dos grandes defensores de tal unguento foi o médium Chico Xavier, principalmente reconhecendo que as pessoas já empregavam a pomada em casos de dermatites, úlceras, dores musculares, contusões, etc.
O que mais me chama atenção aqui nessa exposição é o caráter fitoterápico do unguento, sendo transmitido por espírito usando um nome, mais facilmente encontrado dentro da Umbanda. Além disso, o espiritismo há muito defende que não há necessidade de nenhum elemento físico dentro de um trabalho espiritual, porém aqui percebemos como é divergente esse tipo de pensamento. Acredito que um maior exame para dentro de sua casa espiritual deveria ser obrigatório, antes de apontar o dedo para práticas de outras denominações religiosas irmãs. Porém, isso é apenas um pouco do meu eu ranzinza falando. O que importa de fato é que a pomada, empiricamente ou por meio da fé funciona, e tem até uma base fitoterápica que suporta sua ação.

Assistam uma entrevista do portal EBH – Espiritismo Belo Horizonte sobre a pomada:
História da origem da Pomada Vovô Pedro e como a SEMAN, instituição responsável, conseguiu sua realizar produção em escala. Conheça o envolvimento de Chico Xavier com o medicamento e porque a sua fórmula é mantida em segredo. Saiba também: o apoio de outras casas espíritas na sua confecção; como são levantados os recursos para a produção do remédio; qual o critério adotado para a sua distribuição; como é a participação do público na elaboração da pomada; para que tipo de doença se pode usá-la. Juselma Coelho. (Entrevista realizada em 10/06/2009)

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