A arte barroca estendeu-se por todo o século XVII e pelas primeiras décadas do XVIII. A sua difusão abrangeu quase toda a Europa e a América Latina. Estes são, porém, seus limites máximos. O aparecimento das formas barrocas dá-se em épocas diferentes em cada país. Outro tanto se pode dizer do seu declínio. Tais formas, no entanto, embora nascendo claramente de um fundo comum, diferem muitíssimo de nação para nação. E não só: vulgaríssimas em alguns países, em outros são muito raras.
As razões destas diferenças, não são só geográficas, como também históricas. O barroco nasceu e desenvolveu-se, nos princípios do século XVII, na Roma dos papas. Mais do que um estilo definido, era uma tendência comum a todos as artes: um gosto, resumindo.
Em seguida, espalhou-se a partir de Roma pelo resto da Europa e pelos países sob sua influência. É compreensível que suas formas características vão surgindo nas várias nações com um atraso tanto maior quanto se distanciavam da Itália. A isto, se junta um segundo fator, onde quer que o clima cultural, religioso e político fossem semelhantes ao italiano, o barroco era bem acolhido e espalhava-se rapidamente, ao passo que era recusado nos locais em que as condições históricas eram diferentes.
A arte barroca conseguiu se casar à técnica avançada e o grande porte da Renascença com a emoção, a intensidade e a dramaticidades do Maneirismo, fazendo do estilo barroco o mais suntuoso e ornamentado na história da arte.
Embora o termo Barroco seja às vezes usado no sentido negativo de super elaboração e ostentação, o século XVII não só produziu gênios excepcionais, como Rembrandt e Velásquez, mas também expandiu o papel da arte para a vida cotidiana.
Artistas chamados de barrocos acorreram à Roma, vindos de toda a Europa, para estudar as obras primas da antiguidade clássica e da Alta Renascença. Voltando à terra de origem, acrescentaram às suas obras as particularidades culturais de cada região.
Enquanto os estilos abrangiam desde o realismo italiano ao exagero francês, o elemento comum era a sensibilidade e o absoluto domínio da luz para obter o máximo impacto emocional.
As obras barrocas romperam o equilíbrio entre o sentimento e a razão ou entre a arte e a ciência, que os artistas renascentistas procuraram realizar de forma muito consciente; na arte barroca predominam as emoções e não o racionalismo da arte renascentista.
É uma época de conflitos espirituais e religiosos. O estilo barroco traduz a tentativa angustiante de conciliar forças antagônicas: Bem e Mal, Deus e Diabo, Céu e Terra, Pureza e Pecado, Alegria e Tristeza, Paganismo e Cristianismo, Espírito e Matéria.
Suas características gerais são:
- Emocional sobre o racional; seu propósito é impressionar os sentidos do observador, baseando-se no princípio segundo o qual a fé deveria ser atingida através dos sentidos e da emoção e não apenas pelo raciocínio.
- Busca de efeitos decorativos e visuais, através de curvas, contracurvas, colunas retorcidas;
- Entrelaçamento entre a arquitetura e escultura;
- Violentos contrastes de luz e sombra;
- Pintura com efeitos ilusionistas, dando-nos às vezes a impressão de ver o céu, tal a aparência de profundidade conseguida.
ARQUITETURA
Possui arquitetura dinâmica. O barroco não renega as formas clássicas – colunas, arcos, frontões, frisos – mas transforma-os de uma maneira fantasiosa e subjetiva.
O barroco amava o movimento, a curvatura das fachadas tornou-se num dos motivos característicos da arquitetura desse período.
A procura de formas complicadas, como por exemplo, a cúpula da igreja de São Lourenço, em Turim na Itália, seu entrelaçar de arcos (talvez inspirados nos exemplos árabes) leva até quase aos limites uma forma complicada, mas com base em regras bem definidas.
Outro aspecto peculiar da arte barroca é a importância do uso da luz. Para a arquitetura barroca, a luz é um elemento fundamental. Os fortes contrastes entre partes vivamente iluminadas e partes quase na escuridão, são típicos dos edifícios da época e contribuem para dar dramaticidade à atmosfera.
O barroco na França assume características mais sóbrias do que na Itália. Os arquitetos franceses lançaram as bases para um estilo autônomo mais comedido, quase clássico, que se impôs pouco a pouco como o estilo dominante na Europa.
O palácio de Versalhes talvez não seja a sua expressão máxima. A fachada do lado do jardim revela um único fator de movimento: as três pequenas galerias sobrepostas, em dois planos, à própria fachada. O recorte do palácio foi pensado, mais do que como fim em si mesmo, mas como pano de fundo para o imenso parque.
Na Áustria e na Alemanha, o barroco tanto se inspirou nos exemplos franceses como nos italianos. Dois exemplos: o palácio de Schonbrunn, em Viena segue mais o estilo francês e por sua vez a igreja Karlskirche, também em Viena acompanha mais o estilo italiano.
O barroco espanhol traz uma arquitetura repleta de ornamentações, enquanto que o francês é sóbrio e imponente. Um exemplo clássico desse estilo é a Igreja de São Tiago de Compostela.
Porém, a arquitetura barroca não se limitou aos edifícios, também alargou sua atenção aos novos campos de ação: estradas, praças e jardins. O que hoje chamamos de urbanismo. Era uma evolução que fazia parte intima do espirito do tempo, muito teatral. Por outro lado, a capacidade técnica dos mestres barrocos estava à altura de dominar os novos e complexos temas. A praça de São Pedro, em Roma, de autoria de Gian Lorenzo Bernini, é o exemplo mais conhecido do aspecto urbanístico do barroco.
E não podemos deixar de citar a fusão de diversas artes que é típico da arquitetura barroca, como: obeliscos egípcios, as fontes, as colunas adaptadas a esse estilo, as escadarias grandiosas e com aspecto de cenário, a pintura das paredes com salões com cenas arquitetônicas e naturalistas que simulam a continuação, até o infinito, da arquitetura real e as galerias – largo corredor coberto que desimpede as salas e se transformam em lugar de particular elegância.
PINTURA
As características da pintura barroca são:
- Composição assimétrica, em diagonal – que se revela num estilo grandioso, monumental, retorcido, substituindo a unidade geométrica e o equilíbrio da arte renascentista;
- Acentuado contraste de claro-escuro (expressão dos sentimentos) – era um recurso que visava a intensificar a sensação de profundidade;
- Realista, abrangendo todas as camadas sociais;
- Escolha de cenas no seu momento de maior intensidade dramática;
- A decoração em “trompe l’oeil”.
Dos principais pintores Italianos, temos:
Caravaggio (1571-1610) foi o pintor mais original do século XVII, veio injetar vida nova na pintura italiana após a artificialidade do Maneirismo. Conduziu o realismo a novas alturas, pintando corpos em estilo absolutamente “barra pesada”, em oposição aos pálidos fantasmas maneiristas. Desse modo, Caravaggio secularizou a arte religiosa, fazendo os santos parecer gente comum e os milagres, eventos do cotidiano. Embora se especializasse em grandes pinturas religiosas, Caravaggio defendia a “pintura direta” da natureza – ao que parece diretamente dos cortiços mais sórdidos. Na obra, ”Chamado de São Mateus”, por exemplo, o futuro apóstolo está numa taverna escura, cercado de homens chiques contando dinheiro, quando Cristo ordena: “Siga-me”. Um foco de luz diagonal ilumina a expressão aterrada e o gesto de perplexidade do coletor de impostos. Caravaggio usa a perspectiva de modo a trazer o espectador para dentro da ação.
Andrea Pozzo (1642-1709) realizou grandes composições de perspectiva nas pinturas dos tetos das igrejas barrocas, causando a ilusão de que as paredes e colunas da igreja continuam no teto, e de que este se abre para o céu, de onde santos e anjos convidam os homens para a santidade. Este mestre também adotou também, a composição centrifuga , ou seja, a aglomeração das figuras nos lados da pintura, deixando abrir-se ao centro uma larga zona do céu. Exemplo da sua pintura é o teto da igreja Santo Inácio, em Roma, conhecida como “A Glória de Santo Inácio.”
A Itália foi o centro irradiador do estilo barroco. Dentre os pintores mais representativos, de outros países da Europa, temos:
Diego Velázquez (1599-1660) pintor espanhol, batizado de Diego Rodriguez da Silva y Velázquez, além de retratar as pessoas da corte espanhola do século XVII, procurou registrar em seus quadros também os tipos populares do seu país, documentando o dia-a-dia do povo espanhol num dado momento da história. Usava os princípios da pintura barroca, como os efeitos luminosos são usados – não através de contrastes ásperos, mas sim com uma continua e gradual mudança de intensidade nas várias zonas da tela – para fazer da composição um jogo de anotações coloristas simbólicas, escondidas atrás de uma aparência de absoluta adesão ao tema.
Rubens (1577-1640) nascido em Flandres, atualmente Bégica, como Sir Peter Paul Rubens conhecido como “Príncipe dos pintores e pintor dos príncipes” teve uma vida sofisticada, que o levou às cortes da Europa como pintor e diplomata. Um raro gênio criativo, tinha uma formação clássica e era sociável, bonito , vigoroso e viajado. Falava fluentemente vários idiomas e tinha uma energia inextinguível. Além de um colorista vibrante, se notabilizou por criar cenas que sugerem, a partir das linhas contorcidas dos corpos e das pregas das roupas, um intenso movimento. Em seus quadros, é geralmente, no vestuário que se localizam as cores quentes – o vermelho, o verde e o amarelo – que contrabalançam a luminosidade da pele clara das figuras humanas.
Rembrandt (1606-1669), holandês, nascido Rembrandt van Rijn, teve grande sucesso como pintor de retratos, mas sua fama também repousa nos quadros sérios, introspectivos, de seus últimos anos, pinturas em que o sombreado sutil implica uma extraordinária profundidade emocional. O que dirige nossa atenção nos quadros deste pintor não é propriamente o contraste entre luz e sombra, mas a gradação da claridade, os meios-tons, as penumbras que envolvem áreas de luminosidade mais intensa. Rembrandt evoluiu dos pequenos detalhes para figuras de tamanho grande, pintadas com grandes borrões de tinta. Ele praticamente entalhava o pigmento, espalhando com a espátula uma pasta pesada espessa e desenhando na camada de tinta malhada com o cabo do pincel. O efeito é uma pintura irregular que cria um brilho ao refletir e difundir a luz, enquanto as zonas escuras levam uma fina camada vidrada para realçar a absorção da luz.
Frans Hals (c.1582-1666), um dos maiores retratistas da história da pintura, o holandês Frans Hals cumpriu um destino comum a outros grandes nomes da pintura: o extraordinário talento convivendo com intermináveis problemas financeiros. Nascido em Antuérpia, ele arrastou uma vida quase pacata em Haarlem, no norte os Países Baixos, e pouco se preocupou, durante sua carreira, com o estilo e as realizações dos grandes mestres italianos de sua época – como fez seu contemporâneo Van Dyck. Criador, entre outras, de telas memoráveis como Cavaleiro Sorridente, talvez o mais admirado retrato do mundo depois da Mona Lisa, Hals foi, em essência, um autodidata responsável, com seus belos retratos, pela criação de uma pintura independente em seu país.
Anton van Dyck (1599-1641) nascido em Antuérpia, foi um dos retratistas de maior sucesso da história da arte. Suas imagens fascinantes da corte de Carlos I influenciaram artistas de seu tempo e determinaram o curso do retratismo inglês nos duzentos anos seguintes. Brilhante e precoce, foi muito influenciado por Rubens, que o considerava seu melhor discípulo, embora Van Dyck tenha sido mais seu ajudante que um verdadeiro aluno. Acima de tudo um autodidata, ele adquiriu fama na Itália, executando retratos da aristocracia genovesa. De volta a Antuérpia foi ali também um artista muito requisitado: em seu estúdio, ajudantes e alunos acotovelavam-se com os clientes. Depois de designado pintor da corte de Bruxelas, para a Regente Isabel, foi feito primeiro-pintor do Rei Carlos I, da Inglaterra.
Vermeer (1632-1675), holandês de nome Johannes Veermer, apresentou muita técnica do uso da luz, enquanto outros pintores usavam uma gama de cinza, verde, marrom, as cores Veermer eram mais puras e vívidas, com uma intensidade de brilho jamais vista. Veermer usou uma “câmera escura” para obter maior perfeição do desenho. Consiste numa caixa escura com uma abertura minúscula por onde se projeta a imagem do objeto a ser traçado numa folha de papel. No entanto, Veermer não se limitava a copiar as linhas da cena projetada. Seu manuseio da tinta também foi revolucionário, usava de tal forma que se aproximava do pontilhismo dos impressionistas. Um crítico descreveu essa superfície como uma “mistura de pérolas socadas”.
William Hogarth (1697-1764), inglês que inventou um novo gênero – a tira cômica – ou uma sequência de quadros anedóticos que zombava das cenas do cotidiano. As massas compravam gravuras, tiradas aos milhares, baseadas nesses quadros, e Hogarth tornou-se o primeiro inglês a ser amplamente conhecido no estrangeiro.
Nicolas Poussin (1594-1665) embora o mais famoso pintor francês do século XVII não trabalhou na França, mas em Roma. Apaixonado pela antiguidade, ele baseou seus quadros nos antigos mitos e na história de Roma e na escultura grega. A ampla influência da obra de Poussin reviveu o estilo da antiguidade, que veio a ser influência artistas nos duzentos anos seguintes.
Claude Lorrain (1600-1682) De origem humilde, confeiteiro e depois assistente de um pintor decorativo, Claude Gelée de Lorraine transformou-se num dos mais seletos paisagistas do seu tempo. Passou praticamente toda a vida em Roma e trabalhando para os mais nobres clientes. Estudou à exaustão os efeitos da luz e a atmosfera dos campos vizinhos de Roma, suas representações da luz resultaram em imagens espetaculares. Lorrain deu um sentido de seriedade moral à pintura de paisagens. Suas paisagens imaginárias foram inspiração para outros pintores paisagistas da Europa, ao longo das gerações seguintes. Lorrain morreu em sua cidade adotiva aos 82 anos.
ESCULTURA
A primeira preocupação dos escultores barrocos é de se fundirem nas outras artes. Na realidade, nestas obras não se conseguem separar os dois aspectos: o conjunto é claramente arquitetônico, mas o papel principal foi confiado às estatuas. As esculturas barrocas já não são concebidas segundo esquemas geométricos, mas sim combinando movimentos, soltos e vivos, das figuras.
Suas características são: o predomino das linhas curvas, dos drapeados das vestes e do uso do dourado; e os gestos e os rostos das personagens revelam emoções violentas e atingem uma dramaticidade desconhecida no Renascimento.
Gianlorenzo Bernini (1598-1680) foi mais que um escultor do período barroco. Foi também arquiteto, urbanista, decorador, teatrólogo, compositor e cenógrafo. Algumas de suas obras serviram de elementos decorativos das igrejas, como, por exemplo, o baldaquino e a cadeira de São Pedro, ambos na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Barroco é uma palavra originada de termo usado para classificar uma pérola irregular. No fim do século XVIII, a palavra começou a ser utilizada para classificar o estilo artístico imediatamente anterior de forma pejorativa, como algo extravagante e desarmônico. Hoje, o Barroco é considerado um mundo cultural complexo, que não só se apropria das formas clássicas com critérios e objetivos novos, como também faz parte de um sistema de vida e pensamento que detém coerência própria.
Com o barroco, veio juntar-se um novo gênero de pintura aos tradicionais, o da natureza morta, composição mais ou menos complexa com objetos da vida cotidiana: flores, livros, peças de caça e outros. É uma pintura de estúdio, de interior, na qual a representação pormenorizada do tema através das luzes e das sombras encontra o seu campo de aplicação máxima. Caravaggio é um representante importante desse tipo de pintura, assim como Jan Brueghel, o Velho e Francisco de Zurbarán.
Caravaggio teve muitos seguidores, entre estes encontra-se a italiana Artemisia Gentileschi (1593-1653) a primeira mulher a ser conhecida e apreciada como pintora. Artista extremamente talentosa, que viajava para muitos lugares e tinha uma vida cheia e independente, coisa rara para uma mulher naqueles tempos. Gentileschi pintou temas feministas no estilo de Caravaggio, jogando a iluminação nas figuras principais contra um fundo escuro, quase liso.
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