Umbanda não é Espiritismo
D. Estevão Bittencourt, em seu livro Porque Não Sou Espírita, diz que Umbanda também é Espiritismo. Abaixo, a resposta de Américo Domingos, em Porque Sou Espírita:
" A seguir, no opúsculo, o reverendo usa de artimanha, 'abrangendo sob a designação de Espiritismo também as religiões afro-brasileiras (Umbanda, Candomblé, Macumba...) estas têm em comum com o Kardecismo a prática da evocação dos mortos e a crença na Reencarnação'.
'Macumba' tem normalmente o significado de magia negra, trabalho para o mal, enquanto a Doutrina Espírita é alicerçada no amor. O lema dos espíritas é 'fora da caridade não há salvação'. A mediunidade praticada gratuitamente, 'dando de graça o que de graça recebeu', segundo o ensinamento de Jesus. Já o termo 'Kardecismo' fica por conta de quem desconhece que não existe essa designação. Allan Kardec não inventou o Espiritismo. O Mestre Lionês foi o codificador de uma doutrina, constituída dos ensinamentos ministrados pelos espíritos, através de vários médiuns. Na realidade, o sábio francês conseguiu realizar uma obra memorável: trazer a lume um verdadeiro tratado universal, amalgamando ciência, filosofia e religião. Portanto, só existe um Espiritismo, o que foi codificado por Allan Kardec.
Em uma nota de rodapé, que ora transcrevo, o eclesiástico foi bem ardiloso: 'A relação entre Espiritismo e Umbanda, por exemplo, é tão íntima que há quem diga que a Umbanda é complementação do Espiritismo: seria a quarta revelação (após a de Moisés, a de Jesus Cristo e a de Allan Kardec). Tenha-se em vista o texto do jornal 'O Reformador', órgão oficial da Federação Espírita Brasileira, julho de 1953, p 149: 'Baseados em Kardec, é nos lícito dizer: Todo aquele que crê nas manifestações dos espíritos, é espírita; ora o umbandista nelas crê, logo o umbandista é espírita... Assim todo umbandista é espírita, porque aceita a manifestação dos espíritos, mas nem todo espírita é umbandista, porque nem todo espírita aceita as práticas da Umbanda'.
Com todo o respeito aos nossos irmãos umbandistas, a conclusão astuciosa do padre, de ser Umbanda a quarta revelação (após Moisés, a de Jesus e a de Kardec), peca pela falta de autenticidade.
Quanto ao enunciado em Reformador, a minha posição é discordante. Primeiramente, o clérigo, citando a Federação Espírita Brasileira, pensava, com certeza, que o espírita tem a obrigação de seguir, sem análise, as orientações emanadas da Casa Mater.
Acostumado o católico a não discutir o ensino da Igreja em matéria de fé, supõe que o espírita deveria aceitar, sem exame minucioso, o que publica a Federação Espírita Brasileira.
Felizmente, a nossa querida Doutrina não tem hierarquia religiosa. O espírita tem um grande manancial de estudo, constituído pelo chamado 'pentateuco espírita': O LIVRO DOS ESPÍRITOS, O LIVRO DOS MÉDIUNS, O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, O CÉU E O INFERNO e A GÊNESE.
Consultando a primeira obra da Codificação kardequiana, na Introdução, encontra-se o seguinte ensinamento, ministrado pelo excelso Codificador: 'A Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os espíritos ou seres do mundo invisível' e 'os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou se quiserem, os espiritistas' (L.E, pg 13-FEB)
E 'O Livro dos Médiuns', capítulo trinta e dois, é definido o Espiritismo por Allan Kardec, como 'Doutrina fundada sobre a crença na existência dos Espíritos e em suas manifestações'.
Espírita 'é o que tem relação com o Espiritismo; adepto do Espiritismo: aquele que crê nas manifestações dos espíritos'.
Em 'O Evangelho Segundo o Espiritismo': 'É a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo' (Capítulo I, n.o 5)
Contudo, a Doutrina Espírita não se restringe apenas ao intercâmbio mediúnico. O Mestre Lionês, em 'O Livro dos Espíritos' (Prolegômenos) ressalta que o Espiritismo está alicerçado na primeira obra básica da Codificação. Portanto, Doutrina Espírita é a que está contida em 'O Livro dos Espíritos'; constituindo 'as bases de um novo edifício que se eleva e que um dia há de reunir todos os homens num mesmo sentimento de amor e caridade' (pág. 49, Editora FEB).
Na realidade, a Doutrina Espírita difere da Umbanda quanto à origem, como também em relação ao conteúdo doutrinário e à prática ritual.
A Umbanda é fruto de um sincretismo religioso, a resultante da mistura dos cultos africanos com as crenças dos indígenas brasileiros e com a influência católica.
O Espiritismo é uma doutrina, codificada por um sábio francês, recebida de vários Espíritos Superiores, através de inúmeros médiuns.
O conteúdo doutrinário do Espiritismo é calcado em um trabalho minucioso, realizado por Allan Kardec com as respostas obtidas dos Espíritos Superiores. A Umbanda não tem doutrina codificada, não existe uniformidade nos trabalhos realizados nos terreiros. A religião umbandista, ao contrário do Espiritismo, ainda está muito presa às coisas materiais e seus adeptos, em grande número, por não estudarem, estão ligados a superstições e a crendices.
Existe uma grande afinidade entre as duas crenças no que se refere a crença na Reencarnação, na aceitação da imortalidade da alma e na lei de causa e efeito.
Quanto ao ritual, existe um grande abismo entre as duas religiões. O umbandista, ao contrário do espírita, aceita a hierarquia religiosa, utiliza cerimonial de batizados e casamentos, adora imagens de escultura, acende velas, faz despachos, veste-se com roupas brancas e emprega símbolos e amuletos.
O confrade Pedro Franco Barbosa, através da obra 'Espiritismo Básico', 1.a Edição, editado pelo Centro Brasileiro de Homeopatia, Espiritismo e Obras Sociais, relata alguns pontos análogos da Umbanda com o Catolicismo, digna de ser transcrita a seguir: 'Os umbandistas justificam o uso da cachaça com o do vinho dos católicos; de defumadores com o incenso das missas; da comida dos ORIXÁS, chamada de Amalá, com a hóstia; dos tocos com as velas; dos despachos com as promessas; dos pontos cantados com os hinos e cantorias da Igreja; dos pontos riscados com os símbolos cristãos; das nunangas (vestes especiais) com os paramentos da liturgia católica; das mirongas (segredos) com os mistérios e dogmas; o dinheiro dos despachos com as taxas cobradas pela Igreja'.
Apesar de estarem separados por grandes fronteiras, o Espiritismo e a Umbanda estão irmanados no propósito da fraternidade, do amor ao próximo e, no momento em que o umbandista começar a estudar e a pesquisar, à saciedade, a fenomenologia mediúnica, livrando-se paulatinamente dos rituais fetichistas, os laços de união cada vez mais estarão fortalecidos."
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