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A IGREJA CATÓLICA FOI ESPIRITA?

A Igreja Foi Espírita?


O cristianismo já foi reencarnacionista? Jesus tinha a reencarnação como base de seus ensinamentos? A Igreja Católica escondeu do mundo que a Bíblia falava da reencarnação? A Bíblia foi adulterada? Em tempos de Código Davince todas essas teorias de conspiração podem parecer bastante reais aos desavisados.
Escolhemos como base para a nossa análise um artigo que ganhou notoriedade na Internet, de autoria do Sr. Vivaldo J. de Araujo. No texto, o autor tenta provar - muito embora não apresente qualquer prova histórica - que até o sexto século a Igreja e todo o cristianismo seriam reencarnacionistas, ou seja, que a reencarnação faria parte da fé cristã e que o II Concílio de Constantinopla teria extirpado o reencarnacionismo da fé cristã.
O referido texto tem sido objeto de debates acalorados - e desnecessários - acerca da veracidade do que é proposto pelo artigo, que muito embora careça fundamento histórico, bíblico e até lógico, ganhou status de verdade doutrinária entre alguns grupos espíritas. Vejamos a íntegra do artigo do Sr. Vivaldo e em seguida as nossa ponderações a respeito.
O Concílio de Constantinopla – 553 D.C.
Vivaldo J. de Araújo
Até meados do século VI, todo o Cristianismo aceitava a Reencarnação que a cultura religiosa oriental já proclamava, milênios antes da era cristã, como fato incontestável, norteador dos princípios da Justiça Divina, que sempre dá oportunidade ao homem para rever seus erros e recomeçar o trabalho de sua regeneração, em nova existência.
Aconteceu, porém, que o segundo Concílio de Constantinopla, atual Istambul, na Turquia, em decisão política, para atender exigências do Império Bizantino, resolveu abolir tal convicção, cientificamente justificada, substituindo-a pela ressurreição, que contraria todos os princípios da ciência, pois admite a volta do ser, por ocasião de um suposto juízo final, no mesmo corpo já desintegrado em todos os seus elementos constitutivos.
É que Teodora, esposa do famoso Imperador Justiniano, escravocrata desumana e muito preconceituosa, temia retornar ao mundo, na pele de uma escrava negra e, por isso, desencadeou uma forte pressão sobre o papa da época, Virgílio, que subira ao poder através da criminosa intervenção do general Belisário, para quem os desejos de Teodora eram lei.
E assim, o Concílio realizado em Constantinopla, no ano de 553 D.C, resolveu rejeitar todo o pensamento de Orígenes de Alexandria, um dos maiores Teólogos que a Humanidade tem conhecimento. As decisões do Concílio condenaram, inclusive, a reencarnação admitida pelo próprio Cristo, em várias passagens do Evangelho, sobretudo quando identificou em João Batista o Espírito do profeta Elias, falecido séculos antes, e que deveria voltar como precursor do Messias ( Mateus 11:14 e Malaquias 4:5 ).
Agindo dessa maneira, como se fosse soberana em suas decisões, a assembléia dos bispos, reunidos no Segundo Concílio de Constantinopla, houve por bem afirmar que reencarnação não existe, tal como aconteceu na reunião dos vaga-lumes, conforme narração do ilustre filósofo e pensador cristão, Huberto Rohden, em seu livro " Alegorias ", segundo a qual, os pirilampos aclamaram a seguinte sentença, ditada por seu Chefe D. Sapiêncio, em suntuoso trono dentro da mata, na calada da noite: " Não há nada mais luminoso que nossos faróis, por isso não passa de mentira essa história da existência do Sol, inventada pelos que pretendem diminuir o nosso valor fosforescente ".
E os vaga-lumes dizendo amém, amém, ao supremo chefe, continuaram a vagar nas trevas, com suas luzinhas mortiças e talvez pensando - " se havia a tal coisa chamada Sol, deve agora ter morrido ". É o que deve ter acontecido com Teodora: ao invés de fazer sua reforma íntima e praticar o bem para merecer um melhor destino no futuro, preferiu continuar na ilusão de se poder fugir da verdade, só porque esta fora contestada pelos deuses do Olimpo, reunidos em majestoso conclave.
Vivaldo J. de Araújo é Professor e Procurador de Justiça do Estado de Goiás.
Analisando e respondendo ao artigo: O concílio de constantinopla (Vivaldo J. de Araujo)
1 - O II Concílio de Constantinopla não visava em nenhum momento combater uma pretensa crença reencarnacionista. Por sinal em nenhum momento a palavra "reencarnação" ou sequer qualquer derivativo da mesma aparece nos capítulos do concílio, bem como qualquer tema que remeta ao reencarnacionismo. E o Sr. Vivaldo em nenhum momento nos apresenta qualquer ata ou capítulo do concílio que trate do assunto. É simples, o concílio de Constantinopla jamais debateu tal tema, bem como qualquer concílio cristão lhe dedicou uma única linha. Ao final deste artigo disponibilizamos os 5 capítulos, síntese remanescentes deste concílio e nada há que evidencie qualquer mensão ao reencarnacionismo.
2 - Se é mesmo verdade que em algum momento da história o reencarnacionismo foi parte integrante da fé cristã e a mesma foi abolida, onde estão as evidência documentais e históricas a comprovar isso, haja vista todas as heresias combatidas da época foram documentadas, todas chegaram ao nosso conhecimento?
Houve o Arianismo, O Donatismo, A Sola Fide, a Sola Scriptura e tantas outras. Será mesmo que uma heresia chamada Reencarnacionismo  passaria em brancas núvens, ou apenas existiu na imaginação de seus defensores? Se era mesmo tão vasta a sua crença e a sua aceitação, então como passou tão desapercebida na história, já que tantas outras heresias tão ou mais audazes que o reencarnacionismo em suas proposições marcaram suas épocas? E mais, se o reencarnacionismo nunca foi sequer considerado uma heresia a ser combatida, por quê não sobreviveu no seio do cristianismo? Enfim, o reencarnacionismo jamais esteve no bojo da fé cristã, que sempre foi por gênese e essência fundamentado na ressureição.
3 - Digamos que a "poderosa" Teodora, reencarnacionista, muito embora escravocrata cruel segundo o Sr. Vivaldo, tenha mesmo influenciado nas decisões do concílio. Então há um contracenso terrível e uma contradição brutal com a doutrina espírita:
Olhando a questão sob a ótica do próprio espiritismo, chega-se facilmente à conclusão que, mesmo que a dita senhora tivesse hipoteticamente o poder de influenciar todos os concílios do mundo, ainda assim não conseguiria alterar aquilo que estava completamente fora do seu controle, o seu próprio  "carma".
Segundo o espiritismo a "terrível Teodora"  poderia reencarnar em qualquer corpo, mesmo em outro sexo, em qualquer raça, em qualquer época segundo esse mesmo carma. E independentemente de sua posição social, não poderia efetuar essa escolha em vida, ou seja, não poderia escapar da possibilidade de reencarnar como uma escrava negra apenas por tentar modificar os destinos de um concílio ou por qualquer outro gesto, conforme ensina o espiritismo.
Enfim, além de ser um argumento sem qualquer base histórica - o que mais sugere tratar-se de um pretexto absurdo - carece de um mínimo de lógica e contradiz a própria doutrina espírita. Teria sido mais sábio e honesto por parte do autor ter fundamentado a justificativa de sua tese em algo que pudesse ser comprovado, o que não é o caso.
4 - Se a decisão dos bispos da época tinha cunho político de abolir uma crença cientificamente justificada, qual ciência então já a justificava na época? Se era mesmo uma crença que já naqueles dias gozava da apreciação científica, então as ciências a baniram da mesma forma como teria feito a Igreja segundo o Sr. Vivaldo?
Ademais, se a crença reencarnacionista era tão comum na época, se englobava aquela cultura há milênios e nela estava inserida, no quê ela poderia ser pivô de disputas políticas? E se foi objeto de tais disputas fantasiosas, quem seriam seus partidários? Ou seja, não há qualquer sentido nisso, não há lógica, além de não haver base histórica. Ou seja, uma afirmação indigna até mesmo de ser levada em consideração.
5 - Se o reencarnacionismo era aceito por todo o mundo cristão, como a supressão dessa crença passou desapercebida? E que mundo seria esse, se mesmo o paganismo romano que ainda teimava em resistir NÃO era reencarnacionista?
A reencarnação sempre foi uma crença afeta ao paganismo hindu, egipcio e babilônico. Notemos ainda que o povo judeu, segundo a Biblia, esteve sob o jugo egípcio e babilônio, mas jamais sucumbiu às crenças religiosas desses povos.
6 - Em nenhum dos concílios que antecederam ou se seguiram ao II Concílio de Constantinopla há qualquer condenação ao reencarnacionismo, ou seja, essa crença jamais foi ponto de fé entre os cristãos. Não mereceu qualquer citação por mínima que fosse, que justo desprestígio.
7 - Orígenes: É interessante a menção de Orígenes no artigo do Sr. Vivaldo, e talvez toda a valides desta argumentação esposada pelos espíritas que coadunam com essa tese gira em torno de uma má compreensão da doutrina ensinada por Orígenes, assim preferimos supor.
Orígenes, ao contrário do que alegam muitos espíritas, não acreditava na reencarnação, mas na ressurreição. Mais especificamente, Orígenes acreditava erroneamente num tipo de preexistência das almas (que muitos espíritas erroneamente confundem com reencarnação). Segundo Orígenes toda pessoa já havia sido criada no céu como espírito, e lá tinha uma existência similar à nossa, e a terra funcionava como um tipo de provação às mesmas. A pessoa viria à terra de acordo com seu pecado em sua preexistência (no céu). Ela poderia aceitar a fé cristã durante a sua caminhada nesta terra e ir para o céu novamente ou então rejeitá-la e perder-se eternamente no inferno, mas em nenhum momento essa doutrina origienista fala sobre a reencarnação. Muito pelo contrário, muito embora Orígenes errasse em sua proposição antibíblica de uma preexistência, acertava quando afirmava que após essa vida, não haveria retorno, ou o céu ou o inferno como fim único e nunca um retorno a esta terra, só é dado ao homem viver uma única vez: Heb 9,27.
É digno de nota que esta doutrina foi elaborada por Orígenes como uma solução para o problema filosófico do mal, mas como não havia base bíblica para tal, foi sabiamente condenada neste Concílio. Não podemos ver ai nenhuma ligação com a doutrina kardecista da reencarnação, persistir nisso seria distorcer a realidade dos fatos.
Há de se ressaltar ainda que este Concilio nunca condenou nenhuma passagem sequer dos Evangelhos, ou seja, a Bíblia permeneceu incólume, não há na mesma qualquer dubiedade em favor do reencarnacionismo. Nenhum espírita conseguiu provar o contrário disso até hoje, mesmo assim preferem permanecer na pertinácia em afirmar esta história mítica inventada com o fito de solucionar a suposta omissão da reencarnação na Bíblia e na história da Igreja. Ou seja, prefiro imaginar que tais afirmações decorram de falta de base ou de uma pesquisa francamente empobrecida do que em afirmação desonesta.
8 - João Batista era a reencarnação de Elias? - Bom, segundo o Sr. Vivaldo Araujo, SIM, mas apenas segundo as suas palavras. Essa tese redunda em equívocos absurdos, vejamos porquê:
a) João Batista disse abertamente, sobre essa questão, quando lhe perguntaram: "És tu Elias?", ele respondeu imediatamente: "NÃO SOU" (João 1:21). Se é que a reencarnação era mesmo uma crença tão comum, mesmo milênios antes da fé cristã, João Batista certamente nunca acreditou nela.
b) Quando Jesus fez esta comparação, eles tinham acabado de ver Elias e Moisés no monte da transfiguração.
Se Elias fosse João Batista reencarnado os espíritas entrariam em contradição com sua própria doutrina, veja:
João nesta altura já havia sido decapitado por Herodes, portanto estava morto. Ora, o próprio Kardec afirmou que "a reencarnação é a volta da alma à vida corpórea, mas em outro corpo especialmente formado para ela e que nada tem de comum com o antigo". Como então, João Batista, apareceu no velho corpo na transfiguração? Não teria ele que aparecer (de acordo com a doutrina espírita) com o atual, da ultima reencarnação, isto é, com o corpo de João e não de Elias?
Ainda, segundo a doutrina espírita, o tal espírito se reencarna para purgar suas faltas do passado para progredir até ser espírito puro. Diz Kardec: "Toda a falta cometida, todo o mal praticado é uma dívida contraída que deverá ser paga."(O Céu e o Inferno, pág. 88) Certamente, Elias mesmo sendo um profeta de Deus, tendo intimidade com Ele, parece que não havia progredido muito, visto que passou novamente pelas mesmas "provas" (como João Batista) para "limpar" seu suposto "carma" do passado.
Repetimos, a Bíblia diz categoricamente que "Está ordenado ao homem morrer uma só vez vindo depois disto o juízo" (Hebreus 9:27). Não existem várias mortes, mas uma só.
C) Se a reencarnação é o ato ou efeito de reencarnar, pluralidade de existência com um só espírito, é evidente que um vivo não pode ser reencarnação de alguém que não morreu. Isso mesmo! Fica claro assim que João não era Elias já que Elias NÃO MORREU, como erroneamente quer fazer entender e com muita dificuldade o Sr. Vivaldo. Conforme narra a Bíblia, Elias tendo sido arrebatado vivo para os céus (conf. II Crônicas 2:11). Ou seja, uma mesma Bíblia vista sob uma ótica meramente de conveniência pois é impensável que tal detalhe tenha passado desapercebido.
Então porque Jesus disse que João era o Elias que havia de vir? Não precisamos recorrer à fantasiosa doutrina reencarnacionista para explicar esse ponto, deixemos que a Bíblia interprete a própria Bíblia.
João Batista iria adiante de Jesus no ESPIRITO E PODER de Elias e não que seria Elias reencarnado. (Lucas 1:17); Isto tem a ver com o ministério de ambos e não com reencarnação dos espíritos. Se seguirmos esta linha de pensamento, teremos de admitir que Elizeu e não João Batista era a reencarnação de Elias, pois diz a Bíblia que "Vendo-o, pois, os filhos dos profetas que estavam defronte dele em Jericó, disseram: O espírito de Elias repousa sobre Eliseu" (2 Reis 9:15). Mas um não poderia ser a reencarnação do outro, pois ambos viveram ao mesmo tempo. Quando vemos uma pessoa com as mesmas características de outra dizemos: este é um Pelé, um Picasso. Com isso não queremos dizer que um é a reencarnação do outro! Vejamos então as semelhanças entre o ministério de ambos os profetas:
ELIAS
JOÃO BATISTA
Profetizou em tempos de apostasia
Profetizou para aproximar o povo de Deus
Vestia –se com roupa de pele de ovelhas
Acabe (o rei) tinha medo de Elias
Jezabel pediu a vida de Elias
Pregava sobre o arrependimento e castigo
Profetizou em tempos de apostasia
Profetizou para aproximar o povo de Deus
Vestia-se com roupa de pele de ovelhas
Herodes tinha medo de Elias
Herodias pediu a vida de João
Pregava sobre o arrependimento e castigo
9 - Se a Bíblia foi alterada pela Igreja cristã com vistas a excluir completamente o reencarnacionismo de seu conteúdo, como isso pôde ser feito sem que qualquer vestígio palpável dessa violação houvesse sobrevivido mundo a fora? Lembremos que grande parte do antigo testamento era e continuou sendo patrimônio do judaismo e não há sequer menção por mínima que seja do reencarnacionismo em suas linhas. Notemos ainda que há centenas de citações do antigo testamento presente nos Evangelhos e não há nem longe qualquer correlação com a reencarnação. Nem mesmo os manuscritos do Mar Morto citam algo semelhante. Vários escritos patrísticos são anteriores ao cânone bíblico, e nos mesmos não há vestígio de qualquer adulteração com vistas a suprimir o reencarnacionismo. Ou seja, a tese da adulteração das escrituras carece até mesmo de lógica, trata-se de uma das mais absurdas teorias de conspiração de nosso tempo, e como toda teoria de conspiração, é mais digna de um gibi do que de uma obra séria.
É interssante fazer notar que nem a história oficial consagrou o reencarnacionismo como parte integrante da fé cristã em nenhum momento, são crenças integralmente dissociadas em todos os seus fundamentos doutrinários, nem mesmo o próprio Alan Kardec fez assertiva semelhante a do Sr. Vivaldo. Pelo contrário, tanto Kardec quanto os primeiros teóricos do espiritismo colocavam a fé espírita como algo que veio para "aperfeiçoar" o cristianismo. Colocavam o espiritismo como o "consolador" prometido por Jesus.
Ou seja, alguns grupos espíritas acusam a Igreja e o cristianismo de ter "desvirtuado" a verdadeira mensagem cristã, coisa difícil de merecer crédito quando vemos esses mesmos grupos espíritas desvirtuando até mesmo a mensagem original de seus mestres.
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Os Cânones do II Concílio de Constantinopla (553)
1. Se alguém não reconhece a única natureza ou substância (oysia) do Pai, Filho e Espírito Santo, sua única virtude e poder, uma Trindade consubstancial, uma só divindade adorada em três pessoas (hypostáseis) ou caracteres (prósôpa), seja anátema. Porque existe um só Deus e Pai, do qual procedem todas as coisas, e um só Senhor Jesus Cristo, através do qual são todas as coisas, e um só Espírito Santo, no qual estão todas as coisas.
2. Se alguém não confessa que há duas concepções do Verbo de Deus, uma antes dos tempos, do Pai, intemporal e incorporal, e a outra nos últimos dias, concepção da mesma pessoa, que desceu do céu e foi feito carne por obra do Espírito Santo e da gloriosa Genitora de Deus e sempre virgem Maria, e que dela nasceu, seja anátema.
3. Se alguém disser que existiu um Deus-Verbo, que fez os milagres, e um Outro Cristo, que sofreu, ou que Deus, o Verbo, estava com Cristo quando nasceu de uma mulher, ou que estava nele como uma pessoa em outra, e que ele não era um só e o mesmo Senhor Jesus Cristo, encarnado e feito homem, e que os milagres e os sofrimentos que ele suportou voluntariamente na carne não pertenciam à mesma pessoa, seja anátema.
4. Se alguém disser que a união de Deus, o Verbo, com o homem foi feita quanto à graça, ou à ação, ou à igualdade de honra ou autoridade, ou que era relativa ou temporária ou dinâmica1 ou que era conforme o beneplácito (do Verbo), sendo que o Deus Verbo se comprazia com o homem...
5. Se alguém conceber a única personalidade (hypóstasis) de nosso Senhor Jesus Cristo de tal modo que permita ver nela diversas personalidades, tentando introduzir por este meio duas personalidades ou dois caracteres no mistério de Cristo, dizendo que dessas duas personalidades introduzidas por ele provém uma única personalidade quanto à dignidade, à honra e à adoração, como Teodoro e Nestório escreveram em sua loucura, caluniando o santo Concílio de Calcedônia ao alegar que a expressão "uma personalidade" foi por ele usada com essa ímpia intenção; e se não confessar que o Verbo de Deus foi unido à carne quanto à personalidade (kath' hypóstasin)...
6. Se alguém aplicar à gloriosa e sempre virgem Maria o título de "genitora de Deus" (theotókos) num sentido irreal e não verdadeiro, como se um simples homem tivesse nascido dela e não o Deus Verbo feito carne e dela nascido, enquanto o nascimento só deve ser "relacionado" com Deus o Verbo, como dizem, porquanto ele estava com o homem que foi nascido...
10. Se alguém não confessar que aquele que foi crucificado na carne, Nosso Senhor Jesus Cristo, é o verdadeiro Deus e Senhor da glória, parte da santa Trindade, seja anátema.
[Os quatro cânones restantes tratam com mais pormenores das opiniões dos três teólogos.]
Nota:
1 [katà] anaphorán, ê, schésin, ê dynamin, talvez: "feita por promoção ou possessão ou poder".
Fonte: Documentos da Igreja Cristã, Bettenson, Henry (Editor)
Ed. Aste/Simpósio - São Paulo, 1998 - nº 129 - Pág. 159-160

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