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Violência, Não-violência e Paz - Divaldo Franco

Violência, Não-violência e Paz - Divaldo Franco


A coisa mais importante é a paz, porque quando se perde a paz não se tem mais nada. A paz de verdade que não tem aparência exterior, é a coisa mais importante do mundo. E a paz somente se estabelece no coração dos homens quando não há nenhuma marca de violência, de agressividade. Como disse Jesus, “Eis que eu vos dou a minha paz”. Mas eu não a dou como o mundo a dá, doa, como sabem que eu a posso oferecer? Significando que a paz que desfrutamos é a paz dos charcos e dos pântanos, que na superfície tem águas paradas e na profundidade tem miasmas, a morte, a manifestação deletéria, destrutiva.
A paz do Cristo resulta daquilo que Sócrates estabeleceu na sua maravilhosa mensagem filosófica, idealista, de três fatores essenciais: uma conduta reta, um coração pacificado e uma consciência tranqüila. Porquanto, somente pode ter uma consciência tranquila quem tem uma conduta reta, e somente há serenidade do sentimento ou do coração quando estes dois fatores, conduta e mente estão em harmonia.
Há um velho ditado: “Aqueles que expressam muita violência são pessoas profundamente covardes”. A característica do criminoso é que ele mata porque tem medo de morrer, e ele agride porque não tem coragem de enfrentar.
Na língua portuguesa há duas palavras que se confundem: agir e reagir, só dois verbos. Todos nós costumamos dizer: “Quando alguém me diz alguma coisa negativa eu reajo”, e revela que é um animal, porque reagir é dos animais, é do instinto. Quem pensa não reage, quem pensa age, toma uma atitude, reflexiona, mede os prós e os contra, mas aqueles que não raciocinam, imediatamente reagem. Se pisarmos a pata de um animal, ele escoiceia ou morde. Se pisarmos no pé de um homem, ele deveria pedir para tirar, mas, às vezes, escoiceia ou morde.
Todo covarde se mascara de violento e todo aquele que se arma exteriormente é porque é desarmado interiormente.
A violência é nada mais nada menos que a ausência do amor. É o amor que enlouqueceu. Porque na paisagem da terra, tudo é amor. O ódio é o amor que enlouqueceu; a indiferença é o amor que morreu; o sexo é o amor que se brutaliza; a fraternidade é o amor que se irmana; e o amor, amor é Deus dentro de nós, desdobrando-nos as possibilidades para alcançarmos a área das nossas melhores realizações.
A violência, no entanto, está presente em nós. Herdeiros atávicos da vida animal, temos, como dizem os psicanalistas, principalmente a doutrina freudiana, os instintos agressivos. Quando não logramos vencer através dos valores éticos, morais, queremos vencer através da força bruta, para dar margem que a nossa inferioridade triunfe e o nosso sentido egoísta predomine. Mas, ao lado desse sentimento de violência, há outro sentimento que jaz adormecido, é a não-violência.
Gandhi, este apóstolo da não-violência, estabeleceu que a nossa violência é tão cruel, que nos movimentos internacionais que fazemos, costumamos dizer que iremos lançar uma campanha contra a violência, e toda a vez que apresentamos uma campanha contra alguma coisa, nós nos armamos e ficamos violentos.
Então, ele sugeria que fizéssemos uma campanha a favor da não-violência. Quando estamos a favor de alguma coisa, desarmamo-nos, mas quando nos pomos contra é que precisamos de violência para combater a violência.
Temos visto nos movimentos de antiviolência internacionais as pessoas provocarem arruaça, badernas, apedrejamentos para manter o equilíbrio da não-violência, e para combater os não-violentos utilizam-se da violência.
Podemos pensar que não temos nada há ver com que as pessoas fazem no mundo exterior, mas temos. Toda a vez que uma pessoa cai, a sociedade cai com ela; toda a vez que uma pessoa comete um crime a sociedade se desequilibra; mas, toda a vez que um indivíduo se levanta, se engrandece, que ele se enobrece, a humanidade se ergue e se torna feliz.
Violência, não-violência, são dois temos da mesma equação.
Como nós estamos armados de cólera. Será isso cultura, civilização? Se perguntarmos genericamente se temos religião diremos que sim, uma religião por hereditariedade, por princípio social, por comodidade, mas somos religiosos? Não!
Porque quando estamos na violência estamos sem Deus. Gandhi costumava dizer: é necessário que o homem se desarme de toda a violência, porque através do amor ele logrará mudar a estrutura do seu comportamento e encontrará a paz. Afirmara o extraordinário pacifista: na hora que alguém resolver-se por ter paz, ele contaminará alguém de paz. Duas pessoas em paz mudam a estrutura de uma casa; uma casa tranquila muda o equilíbrio de uma rua; uma rua pacífica muda psicosfera de um bairro; um bairro de harmonia muda o teor vibratório de uma cidade; uma cidade em paz, só aumenta a paz de um país; e um país desarmando jamais será agredido. Aí está a suíça, passou pela guerra franco-prussiana em 1870, pela primeira guerra mundial de 1914 a 1918, pela segunda guerra, permanecendo absolutamente pacífica, porque não tinha e não tem exército. Se olharmos a Costa Rica, cujo presidente ganhou o prêmio Nobel da Paz, um país sem força, porque a força de um país não está na dimensão de suas armas, mas no valor do seu caráter. Vivemos uma hora agressiva, porque nós somos violentos. Mas violência não é o gesto brutal que chamamos de agressividade urbana, violência não é somente a atitude de esbordoar a pessoa no meio da rua. Violência é o autoritarismos exagerado dentro de casa; a atitude agressiva do nosso comportamento com os empregados; é roubar no preço; é exorbitar nas linhas do nosso comportamento comercial; violência é odiar em silêncio, gerando estados de desequilíbrios que se transforma no tipo epidêmico, que se generaliza; violência é atribuir a si direitos que ao outro nega, fazendo com que o egoísmo predomine.
Que possamos, então, superar a nossa violência com atitudes de pacifismo, que coloquemos em nosso coração a bondade, a bondade é boa para quem a exerce, e em nossa conduta a paciência, a neurose nos destrói, a paciência nos dignifica. E tenha certeza que nada destrói a vida, tenhamos a coragem de reconhecer que o mal está em nós, e através de uma atitude honrada podemos superar. 
Resumo de uma palestra proferida por Divaldo Franco.

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